Livro de 1 Crônicas: Resumo e Esboço

No livro de 1 Crônicas se reproduz a maior parte dos acontecimentos narrados nos livros de Samuel e Reis. Esse fato pode levar o leitor a uma ideia equivocada de achar que está diante da simples repetição desses mesmos episódios históricos. Contudo, Crônicas faz isso dentro de determinadas margens de liberdade narrativa, requeridas pelas novas circunstâncias que o povo judeu teve de enfrentar nos anos seguintes ao retorno dos cativos a Jerusalém.

Na época após o cativeiro babilônico, as circunstâncias haviam mudado significativamente para o povo judeu. A monarquia, que teve início com Saul no final do século XII a.C., chegou ao fim com a destruição de Jerusalém. Os judeus repatriados não mais viviam em um estado independente, mas sim sob o domínio do Império Persa como uma nação subjugada. Apesar da benevolência dos governantes persas e da política de tolerância religiosa em relação aos judeus, outras populações na região demonstraram hostilidade.

Nesse contexto, os judeus foram desafiados a reavaliar sua história, buscando compreender melhor o presente e orientar-se para o futuro. O autor das Crônicas oferece à comunidade pós-exílica uma reflexão sobre o passado de Israel e uma exortação à fidelidade ao Senhor, à sua Lei e ao culto no santuário de Jerusalém.

Mensagem de 1 Crônicas

O livro de 1 Crônicas inicia com uma extensa série de genealogias que remontam desde Adão até Saul. Dentro dessas genealogias, são destacadas as linhagens de Davi, Arão e Saul. Essa exposição das linhagens prepara o terreno para o restante do livro, que apresenta a história do rei Davi até sua morte.

No contexto histórico em que se desenrola a narrativa de 1 Crônicas, não apenas a reconstrução do Templo e das muralhas de Jerusalém são consideradas, mas também a restauração do espírito da comunidade judaica pós-exílica. O Cronista enfatiza a importância da fidelidade ao Senhor como um princípio imutável, no qual a vida do povo de Israel dependia diretamente de sua devoção ao Senhor. Essa fidelidade era tanto individual quanto coletiva, evidenciada pela obediência à Lei e por uma vida de piedade genuína.

Essa mesma convicção impulsionou Davi a promover a construção do Templo e a estabelecer os fundamentos do seu ritual cultual, e ele se esforçou para incutir essa mesma devoção em seu povo. Davi reconhecia que, enquanto a comunidade israelita permanecesse fiel à sua eleição como um povo distinto entre as nações, Deus continuaria a demonstrar seu favor e cumprir todas as suas promessas para com eles.

O livro de 1 Crônicas também aborda temas mais abrangentes do que os encontrados nos livros de Samuel e Reis. No entanto, há certos eventos na história de Davi que o Cronista opta por omitir.

Estes incluem seus conflitos com Saul, seus comportamentos questionáveis antes de assumir o trono, o episódio trágico envolvendo Bate-Seba e Urias, os dramas familiares e a rebelião de Absalão. Além disso, o Cronista demonstra pouco interesse na história do Reino do Norte, fazendo apenas algumas alusões breves.

Eventos importantes do livro de 1 Crônicas

Davi traz a Arca para Jerusalém

Davi convocou todo o Israel, desde Sior, no Egito, até à entrada de Hamate, para trazer a arca de Deus de Quiriate-Jearim. Com a participação de todo o Israel, Davi liderou a jornada até Baalá, conhecida também como Quiriate-Jearim, localizada em Judá, com o propósito de trazer de lá a arca de Deus.

A arca foi colocada em um novo carro e transportaram da casa de Abinadabe, com Uzá e Aiô guiando o veículo. Davi e todo o Israel se alegravam diante de Deus com fervor, celebrando com cânticos, harpas, alaúdes, tamboris, címbalos e trombetas. No entanto, Davi não trouxe a arca para sua própria cidade, a Cidade de Davi, mas optou por levá-la à casa de Obede-Edom, o geteu.

A arca permaneceu na casa de Obede-Edom por três meses, durante os quais o Senhor abençoou abundantemente sua família e seus pertences. Posteriormente, Davi, acompanhado pelos anciãos de Israel e pelos capitães de milhares, organizou uma nova viagem para trazer a arca da aliança do Senhor da casa de Obede-Edom para Jerusalém.

O levantamento do censo

Satanás se levantou contra Israel e instigou Davi a realizar um censo do povo. Davi instruiu Joabe e os líderes do povo a realizar essa tarefa, ordenando que contassem o povo de Israel, desde Berseba até Dã, e trouxessem os resultados para ele.

Joabe, por sua vez, expressou preocupação com a decisão de Davi, advertindo-o sobre as possíveis consequências e questionando a necessidade de tal censo, argumentando que todos os habitantes de Israel eram servos do rei. No entanto, Davi insistiu, e Joabe foi encarregado de conduzir o censo por todo o Israel antes de retornar a Jerusalém.

Após a conclusão do censo, Joabe apresentou os resultados a Davi: um milhão e cem mil homens aptos para a guerra em Israel e quatrocentos e setenta mil em Judá. No entanto, os levitas e os benjamitas não foram incluídos na contagem, pois Joabe considerou a ordem do rei como algo abominável.

A atitude de Davi desagradou a Deus, e ele castigou Israel. Arrependido, Davi confessou seu pecado e pediu perdão a Deus, reconhecendo sua insensatez. O Senhor instruiu Gade, o vidente de Davi, a oferecer ao rei três opções de castigo.

Gade apresentou a Davi as três opções: três anos de fome, três meses de perseguição por seus inimigos ou três dias de peste sobre a terra. Davi, angustiado, escolheu colocar-se nas mãos do Senhor, confiando em sua misericórdia, em vez de nas mãos dos homens.

Como resultado da escolha de Davi, o Senhor enviou uma peste sobre Israel, resultando na morte de setenta mil homens.

Davi apresenta Salomão como seu sucessor

Davi proclama a escolha divina de Salomão como seu sucessor. Este ato não apenas garante a continuidade da linhagem davídica, mas também enfatiza a soberania de Deus nas decisões de liderança.

A juventude e a inexperiência de Salomão não são vistas como limitações, mas como evidências da dependência de Deus. A ascensão de Salomão ao trono é um momento chave na história bíblica, inaugurando um reinado caracterizado por sabedoria, prosperidade e pela construção do Templo de Jerusalém.

Este evento cumpre a promessa divina feita a Davi, estabelecendo Salomão não apenas como líder político, mas também como líder espiritual de Israel.

A aceitação de Salomão por todo o Israel e a bênção divina sobre seu reinado destacam a importância da obediência e da fidelidade a Deus para uma liderança eficaz. Este trecho reforça a ideia de que o sucesso e a estabilidade do reino dependem diretamente da relação do rei e do povo com Deus.

A morte de Davi

Davi ascendeu ao trono sobre as doze tribos de Israel após a morte de Isbosete, filho de Saul. Isbosete havia sido proclamado rei por alguns seguidores de seu pai, Saul. Entre esses seguidores estava Abner, o antigo capitão de Saul, que acabou sendo morto em um contexto político conturbado. Após esses eventos, Davi assumiu o trono de Israel em Hebrom, onde estabeleceu sua primeira capital.

O rei Davi não apenas estabeleceu um exército poderoso, mas também liderou o exército em conquistas contra uma série de inimigos. Suas vitórias abrangeram os edomitas, filisteus, cananeus, moabitas, amonitas, arameus e amalequitas. Além de suas habilidades militares, Davi também investiu na infraestrutura do reino, construindo estradas e fortalecendo rotas comerciais. Essas ações não só garantiram a segurança do reino, mas também promoveram a prosperidade econômica. Como resultado, o povo de Israel desfrutou de um período de grande prosperidade sob o governo de Davi.

Davi governou sobre todo o Israel por um período total de quarenta anos, sendo sete anos em Hebrom e trinta e três anos em Jerusalém. Ele faleceu em uma velhice abençoada, repleta de dias, riquezas e glória. Após sua morte, seu filho Salomão ascendeu ao trono em seu lugar.

Esboço

  1. Genealogias desde Adão até Davi. Capítulos 1 – 9
  2. Morte de Saul. Capítulo 10
  3. Estabelecimento de Davi como rei de Israel. Capítulo 11
  4. Davi traz a Arca para Jerusalém. Capítulos 13:1-14, 15:25-28
  5. O censo de Davi e suas consequências. Capítulo 21
  6. Preparativos de Davi para a construção do Templo. Capítulos 22 – 27
  7. Davi apresenta Salomão como seu sucessor. Capítulo 28
  8. Morte de Davi. Capítulo 29:26-30
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