Os acontecimentos descritos em 1 Reis oferecem um panorama que abrangente de cerca de 120 anos da história do povo de Deus, iniciando-se logo após a morte do rei Davi, por volta de 971 a.C., e estendendo-se até o reinado de Josafá, o quarto rei do Reino de Judá, e Acazias, o nono rei do Reino de Israel, em torno de 853 a.C. Esse período foi marcado por tumultos e transformações profundas que moldaram significativamente o destino do povo de Deus.
Após a morte de Davi, a sucessão ao trono torna-se uma questão importante para a monarquia de Israel. O autor de 1 Reis inicia o relato retomando os últimos dias de Davi, fornecendo um contexto para as complexas dinâmicas políticas e sociais que se desdobrariam. A idade avançada de Davi sinaliza a iminência de sua morte, desencadeando uma competição pelo trono entre seus filhos e potenciais herdeiros.
Esse período histórico caracterizou-se por uma série de desafios internos e externos enfrentados pelo povo de Deus. Lutas de poder internas, pressões externas de nações vizinhas e questões religiosas complicaram ainda mais a situação. O resultado foi a divisão do reino unido de Israel em dois: o Reino do Norte, conhecido como Israel, e o Reino do Sul, chamado Judá. Essa divisão representou um momento sombrio na história do povo de Deus, que até então havia sido unido sob um único líder forte.
Ao longo do livro de 1 Reis, esses eventos tumultuosos são narrados com detalhes, destacando não apenas as questões políticas e militares, mas também os aspectos espirituais e religiosos que influenciaram o curso da história de Israel.
Adonias tenta usurpar o trono de Davi
Adonias era um dos filhos de Davi e o filho mais velho em vida no momento. Quando Davi já estava idoso e fraco, Adonias viu a oportunidade de reivindicar o trono para si mesmo. Ele começou a agir como o herdeiro presumido ao trono sem receber qualquer confirmação formal por parte de Davi. Adonias buscou apoio entre os líderes militares e sacerdotais, além de realizar uma festa na qual se autoproclamou rei.
No entanto, os alertas de Natã e Bate-Seba levam Davi a confirmar sua promessa de que Salomão seria o próximo rei. Salomão é coroado e Adonias é perdoado inicialmente, mas sua tentativa subsequente de conspirar contra Salomão leva à sua execução. Isso marca o início de uma nova fase na história de Israel, a da sucessão monárquica, que abrange o reinado de Salomão até a queda de Jerusalém no tempo de Zedequias.
O reinado de Salomão
O reinado de Salomão é uma parte significativa desta obra (1 Reis 2:12-11:43). Destaca-se sua inteligência e sabedoria, bem como as vastas riquezas que acumulou e as imponentes construções que empreendeu. Entre elas estão o complexo palaciano amuralhado, as extensas cavalariças de Megido e as cidades-acampamento. Porém, sobressai-se acima de tudo, o Templo erguido nos terrenos adquiridos por Davi para esse propósito. Esta “Casa do Senhor”, um santuário único para Israel, desempenhou um papel incomparável na vida religiosa e cultural do povo, como Salomão expressou durante a cerimônia de dedicação do Templo (1 Reis 8:22-53).
Em contraste com as magníficas realizações do reinado de Salomão, 1 Reis revela alguns aspectos pessoais que mancham sua reputação. Isso inclui sua conduta apóstata e pouco exemplar, bem como sua postura tolerante em relação à introdução de cultos pagãos e idolatria em Israel. Para fortalecer seu poder e seguir os costumes da época, Salomão estabeleceu alianças políticas e comerciais com nações vizinhas, casando-se com princesas estrangeiras (1 Reis 7:8). Isso resultou em um grande número de esposas não israelitas, que adoravam outros deuses. Com a velhice, essas mulheres desviaram seu coração para seguir seus próprios deuses, e Salomão construiu santuários para eles (1 Reis 11:4-8).
Além disso, 1 Reis destaca o alto custo das construções realizadas por Salomão. Para financiar esses projetos, ele impôs tributos pesados sobre o povo, confirmando as advertências feitas por Samuel sobre os perigos da instituição de uma monarquia em Israel (1 Samuel 8).
A divisão dos reinos entre Israel (do norte) e Judá (do sul)
Após a morte do rei Salomão em 930 a.C., seu filho Roboão ascendeu ao trono de Israel, uma nação unificada composta por doze tribos. No entanto, um profundo descontentamento permeava as tribos do norte, especialmente devido à opressiva carga de impostos imposta por Salomão.
Quando Roboão assumiu o trono, em vez de responder às legítimas queixas do povo com empatia e sabedoria, ele optou por seguir o conselho dos jovens conselheiros, recusando-se a aliviar o fardo tributário. Essa decisão insensata alimentou o descontentamento e desencadeou uma rebelião liderada por Jeroboão.
A revolta dividiu a nação de Israel em dois reinos distintos: o Reino do Norte, liderado por Jeroboão, e o Reino do Sul, mantido sob o domínio de Roboão. Jeroboão estabelece sua capital em Samaria e institui a idolatria em Israel, enquanto Judá permanece fiel ao Templo em Jerusalém.
Profetas Elias e seu sucessor Eliseu
Durante o reinado do rei Acabe em Israel, o profeta Elias emerge como uma voz profética, confrontando a nação por sua apostasia e idolatria. Em um ato de julgamento divino, Elias anuncia ao rei que não haverá chuva na terra por um período de três anos, como consequência dos pecados do povo e de sua adoração a Baal.
Um dos eventos mais marcantes em seu ministério é o confronto no Monte Carmelo, onde Elias desafia os profetas de Baal a invocarem fogo sobre seus sacrifícios. Após horas de invocações infrutíferas, Elias ora ao Deus verdadeiro, que responde com fogo dos céus, consumindo o holocausto, o altar e até mesmo a água ao redor. Este poderoso sinal leva o povo de volta à adoração a Deus e resulta na execução dos profetas de Baal.
Após este triunfo, Elias é ameaçado de morte pela rainha Jezabel, que jura vingança pela morte dos profetas de Baal. Temendo por sua vida, Elias foge para o deserto, onde Deus o sustenta e fortalece, alimentando-o com pão e água, providenciados milagrosamente por corvos, e mais tarde por um anjo.
Além disso, Elias é enviado por Deus em diversas missões, incluindo a ressurreição do filho da viúva de Sarepta e o confronto com Acabe sobre a vinha de Nabote. Ele também unge Eliseu como seu sucessor, transmitindo-lhe sua autoridade profética e garantindo a continuidade de sua obra após sua partida.
O Rei Acabe
Durante o reinado do rei Acabe, houve um foco significativo no fortalecimento das cidades israelitas, como registrado em 1 Reis 16:34 e 22:39. Ele investiu consideravelmente na melhoria da capital do reino do Norte, Samaria, tornando-a um centro importante de poder e influência. O palácio de Acabe era uma manifestação da grandiosidade de seu reinado, sendo descrito como adornado com marfim, conforme evidenciado em passagens como 1 Reis 21:1 e 22:39.
Além de suas atividades domésticas, Acabe enfrentou numerosos conflitos internacionais durante seu reinado. Ele lutou contra a Síria em diferentes ocasiões, conforme registrado em 1 Reis 20. Em uma aliança com os assírios, Acabe participou da batalha de Qarcar. Posteriormente, aliou-se ao reino do Sul para combater novamente a Síria, como mencionado em 1 Reis 22. Esses conflitos ilustram a complexa política externa e as alianças em constante mudança na região durante o reinado de Acabe.
Reinados de Josafá e Acazias
Durante seus 25 anos de reinado em Jerusalém, Josafá, em seguimento aos ensinamentos e exemplo de seu pai, Asa, empenhou-se em manter uma conduta justa e íntegra perante o Senhor. No entanto, apesar de seus esforços, permaneceram os altos, locais de culto pagão, e o povo continuou a praticar sacrifícios e oferecer incenso.
Apesar dessas falhas persistirem, Josafá foi capaz de estabelecer e manter relações pacíficas com o reino de Israel, governado por Acabe. Ao longo de seu reinado, Josafá enfrentou o desafio constante de manter a fidelidade ao Senhor em meio às influências idolátricas que ainda permeavam a sociedade. Ao falecer, Josafá foi sepultado na cidade de Davi, e Jeorão, seu filho, reinou em seu lugar.
Acazias reinou dois anos sobre Israel. Durante seu reinado, continuou as práticas idólatras de sua família. Ele seguiu os caminhos de seu pai Acabe e de sua mãe Jezabel, adorando os ídolos de Baal e provocando a ira do Senhor. A Bíblia descreve Acazias como um rei que fez o que era mau aos olhos do Senhor, assim como sua família.
ESBOÇO:
- Fim do reinado de Davi. Salomão proclamado rei (1:1-2:12)
- Reinado de Salomão (3:1-11:43)
- A divisão dos reinos (12)
- O profeta Elias (17:1-19:21)
- O rei Acabe (20:1-22:40)
- Reinados de Josafá e de Acazias (22:41-54)