O Livro de Deuteronômio é o quinto livro da Bíblia, contém os discursos de Moisés ao povo de Israel enquanto eles estavam acampados nas planícies de Moabe, prestes a atravessar o rio Jordão e conquistar Canaã. Nestes discursos, Moisés relembra os 40 anos de peregrinação pelo deserto e enfatiza a importância da obediência a Deus, advertindo sobre as consequências da desobediência. Sendo assim, ele exorta o povo de Israel a adorar exclusivamente o Senhor, o Deus de seus antepassados. Antes de sua morte no monte Pisga, Moisés escolhe Josué como seu sucessor, sendo ele o maior dos profetas de Israel. A passagem central do livro está em 6.4-6.
Qual a origem do nome
O título do quinto livro do Pentateuco em hebraico é Devarim (“palavras”). Deriva-se das primeiras palavras do livro em hebraico, “Estas são as palavras que Moisés falou”. Na Septuaginta, uma versão grega antiga do Antigo Testamento, chama-se de Deuteronômio. O significado desse termo grego é “segunda lei”, mas é importante esclarecer que, quando aplicado a este livro, não se refere a uma nova lei distinta da “primeira” (a mosaica), mas sim a uma repetição da mesma.
Contexto Histórico
Moisés, o líder dos israelitas, transmite instruções, leis e exortações dadas por Deus ao povo antes de sua entrada na Terra Prometida. Além disso, o livro fala sobre a preparação espiritual e legal para a conquista de Canaã, enfatizando a aliança entre Deus e Israel e a responsabilidade do povo em obedecer aos mandamentos. O contexto histórico inclui também a transição de liderança de Moisés para Josué e os desafios enfrentados por Israel, tanto internos quanto externos.
A chegada dos israelitas às terras de Moabe marcou praticamente o término da jornada iniciada no Egito quarenta anos antes. Assim, nas planícies de Moabe, localizadas a leste do Jordão, representaram a última fase dessa longa jornada, durante a qual os membros do povo que haviam experimentado a opressão da escravidão e participado da libertação gradualmente faleceram. Esse foi, portanto, o castigo pela contínua rebeldia de Israel: exceto por Calebe e Josué, nenhum dos membros da geração do êxodo entrou em Canaã. Nem mesmo Moisés, o dedicado líder, legislador e profeta.
Nas planícies de Moabe, percebendo que o fim de sua vida se aproximava, Moisés tomou a responsabilidade de explicar esta lei ao povo. Reuniu, assim, pela última vez, o povo, para transmitir o que poderia ser considerado como seu “legado espiritual”. Diante de “todo Israel”, Moisés relembra os anos compartilhados, orienta os israelitas sobre a conduta que devem seguir para verdadeiramente serem o povo de Deus e lhes lembra que sua permanência na Terra Prometida está condicionada à fidelidade em observar os mandamentos e preceitos divinos.
Por fim, os últimos capítulos incluem o “cântico de Moisés”, as “bênçãos às doze tribos”, a morte e sepultamento de Moisés na região de Moabe.
Qual a mensagem do livro de Deuteronômio
O Deuteronômio, assim como outros textos normativos encontrados no Pentateuco, expressa o que Deus exige de seu povo escolhido. Essa retrospectiva também tem o propósito de fortalecer a fé e a confiança do povo de Israel em Deus.
Ele faz isso detalhando especificamente o mandamento que Jesus identificou como o principal: “Amarás, portanto, o SENHOR, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua força”. Essas palavras são o alicerce de todo o discurso mosaico, que agora adota um tom mais pessoal do que quando foi proferido no Sinai. Lá, Moisés se restringiu a transmitir o que recebia de Deus, enquanto em Moabe fala na primeira pessoa, revelando ao povo a vontade do Senhor. O Deuteronômio enfatiza essa imagem de Moisés com frases introdutórias como “Estas são as palavras que Moisés dirigiu a todo o Israel”.
O relacionamento especial que Deus estabelece com seu povo é enfatizado de forma significativa no livro de Deuteronômio. O Senhor é, sem dúvida, o Deus criador do céu e da terra, mas, movido exclusivamente por seu amor, escolheu Israel para estabelecer uma aliança única com este povo. Antes mesmo da existência de Israel, Deus já havia selecionado os patriarcas Abraão, Isaque e Jacó, aos quais prometeu que seus descendentes herdariam a terra de Canaã.
Advertências e Exortações
Um lugar proeminente neste livro é ocupado pelo chamado “código deuteronômico”. Ele começa com uma série de “estatutos e juízos” relacionados ao estabelecimento de um único local de culto, um único santuário, ao qual todo Israel estaria obrigado a peregrinar regularmente: “Buscarás o lugar que o Senhor, teu Deus, escolher dentre todas as tuas tribos.” Essas leis abordam uma ampla gama de questões, incluindo o local e a forma de adoração a Deus, o tratamento de idolatria, a prática de sacrifícios, as normas de justiça civil, a proteção dos direitos dos indivíduos e a manutenção da santidade e da pureza dentro da comunidade de Israel.
Este núcleo de natureza legal é apresentado no livro após os dois grandes discursos, seguido por algumas disposições adicionais, a nomeação de Josué como sucessor de Moisés, além de advertências e exortações variadas.
A Promessa da Terra Prometida
No livro de Deuteronômio, o cumprimento da promessa é um tema recorrente e fundamental. Isso é evidenciado, por um lado, pela recordação dos eventos que libertaram Israel da escravidão no Egito e, por outro lado, pela lembrança dos muitos milagres que o povo testemunhou durante os anos no deserto.
Agora, às margens orientais do Jordão, a realização da promessa está prestes a se tornar uma magnífica realidade. Moisés então, exorta os israelitas a permanecerem fiéis ao compromisso que a aliança de Deus os impõe: “Pus diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e tua descendência, amando ao Senhor, teu Deus, ouvindo a sua voz e apegando-se a ele.” Israel, portanto, deve corresponder ao amor de Deus com sua entrega total e sem reservas, obedecendo à vontade divina. “Amarás, pois, ao Senhor, teu Deus, e observarás diligentemente todos os seus mandamentos, seus estatutos, seus juízos e seus preceitos todos os dias.”
ESBOÇO
- Primeiro pronunciamento de Moisés (1.1-4.43)
- Segundo pronunciamento de Moisés (4.44-11.32)
- O código deuteronômico (12.1-26.19)
- Terceiro pronunciamento de Moisés (27.1-28.68)
- Quarto pronunciamento de Moisés (29.1-30.20)
- Últimas disposições. (31.1-32.47)
- Visão de Canaã e morte de Moisés (32.48-52-34.1-12)